Informações na mesma linha
Telefone: (21) 97026-3221
Endereço: Rua Viçosa do Ceara, 157, Paciência, Rio de Janeiro - RJ

Outro dia, ao analisar a carta de vinhos do restaurante Nomo, na Vila Madalena, salivei ao ler a descrição de um branco italiano feito na Toscana, que dizia “pera com sal”. Embora a carta fosse esperta e cheia de novidades, foi o que mais me interessou, ainda que sal não seja exatamente o que vem à cabeça quando pensamos em vinho.

Cada vez mais tenho me deparado com vinhos assim, salinos. Geralmente são brancos, mas também já vi rosados, laranjas e até tintos com essa característica. Para mim, são a cara do verão e muito eficazes para dar uma sensação de férias, pois é como se pudessem nos teletransportar para um banho de mar.

São também grandes acompanhantes para a comida, funcionam como um tempero. E nos fazem salivar, dando mais sede. Como é de se imaginar, são perfeitos com peixes e crustáceos. Com ostras, então, um casamento marítimo perfeito, como se ambos tivessem aparecido juntos à beira-mar.

Nas notas de degustação técnicas, “salino” é um descritor primo da célebre e polêmica “mineralidade”. Esta última —usada para designar tudo o que não é fruta, flor, erva ou animal, e que lembra pedra, giz, grafite e até as próprias conchas das ostras que acompanha tão bem— chegou a ficar desgastada de tanto que foi usada nos últimos anos. Os críticos passaram a vê-la como sinal de engodo: como entrou na moda, quando se quer vender ou não se sabe como descrever algo, taca mineralidade que dá certo. O salino ainda é seguro, ao menos por enquanto. Mantém-se protegido por um nicho, ainda não caiu na boca do povo, então dá para aproveitar a sinceridade das cartas de vinho e sommeliers.

Uvas como alvarinho (ou albariño), assyrtiko, chenin blanc, godello, melon de bourgogne, vermentino e verdejo, entre outras brancas, costumam trazer salinidade. Em comum, são todas variedades com acidez viva e brilhante, uma das explicações do gostinho salgado. Outras são a proximidade do mar e a influência de ventos marítimos no local onde o vinho foi produzido, bem como o tipo de solo —se é calcário e tem concha, por exemplo, pode ter sal no produto final. A colheita no tempo certo também é fundamental: se é muito cedo, só vai ter acidez; se é muito tarde, muita nota tropical, mais generosa.

Os vinhos de Jerez, como o fino e o manzanilla, também trazem um gosto de mar, esse salgadinho tão convidativo.

Eu, que ainda não consegui ir à praia em 2025, tenho me aliviado com eles. E, para quem ficou curioso sobre o vinho do Nomo, era o Ann Vernaccia Colli della Toscana Centrale 2022 (R$ 216 na Cellar), um biodinâmico feito com a uva Vernaccia di San Gimignano, vendido ali também em taça.

Vai uma taça? Chenin blanc é uma uva que prosperou na África do Sul, como mostram os ótimos vinhos Testalonga e o Force Celeste (R$ 190 na Wines 4U). Mais em conta, o Robertson Chenin Blanc (R$ 85 na Divinho) traz o sal na medida. Prove geladinho. Os alvarinhos e albariños abundam por aqui. De Portugal, preços interessantes, como o Adega de Monção em lata (R$ 26 na Barrinhas), perfeito para levar à praia.

Mais caro, mas maravilhoso, é o Soalheiro Alo (R$ 187 na Mistral). Para as ostras, ninguém tira da minha cabeça que o Domaine des Cognettes Muscadet-Sèvre-et-Maine sur Lie (R$ 190 na Belle Cave) foi trazido por uma onda do mar. Entre os tintos, a vinícola Uvva, da Chapada Diamantina, tem bons exemplares com salinidade, especialmente os syrah.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.