O filme fala de sentimentos que não conseguem se tornar palavras. A nova geração também passa por isso. Hoje em dia, com as redes sociais, todos têm poder de voz, todos podem falar livremente. Mas ainda há pessoas que carregam o silêncio e não conseguem sair desse silêncio. O professor é um personagem que gostaria de dar ouvidos para quem não consegue ter voz. Sosuke Ikematsu, em entrevista exclusiva para coluna.
Arakawa, o professor, também encarna uma geração intermediária: entre o Japão mais conservador e uma nova geração que está rompendo alguns tabus. Inspirado na canção “Boku no ohisama”, da banda japonesa de rock Humbert Humbert, que significa “meu sol” (daí o “My Sunshine”, título em inglês do filme), o cineasta trouxe elementos de sua adolescência, pois praticava patinação, mas faz questão de frisar que não se trata de um filme biográfico.
“O que está no filme é fruto do trabalho da criação do roteiro. Não é sobre mim ou minha história. Gostaria que cada um percebesse de sua forma”, comenta Hiroshi Okuyama, em entrevista para coluna.
O diretor observa que, apesar das questões de gênero, homofobia, e preconceito surjam naturalmente ao longo da história, “Sol de Inverno” não é um filme “temático” ou político.
De fato. Herdeiro do cinema de diretores como Hirokazu Kore-eda, Naomi Kawase, Kiyoshi Kurosawa, o mestre Yasujiro Ozu, o jovem Okuyama, que foi um dos destaques da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2024, carrega a tradição de contar histórias que ressaltam o há de extraordinário em um cotidiano aparentemente ordinário.
É um cinema sempre atento às pequenas-grandes mudanças e contradições que se escondem nos silêncios, nos olhares trocados, no que não é dito diretamente.
O passar do inverno, do tempo que embrulha tudo, traz a perda do olhar inocente de Sakura para o professor, por quem ela nutre um amor juvenil platônico. Traz também o amadurecimento de Takuya e traz o entendimento que o ciclo de Arakawa na ilha chegou ao fim.