Alimentar uma IP não significa, em hipótese alguma, deixar de lado filmes originais. Pelo contrário: uma indústria cinematográfica saudável, que lota as salas com produtos familiares e que falem nosso idioma, estimula a criação de novas histórias para ocupar o vácuo entre grandes lançamentos.
Se o parque exibidor já é bombardeado com produtos gringos, nada mais justo do que usar as mesmas armas que eles para garantir a presença dos nossos.
Tudo é questão de estratégia. A Disney experimentou uma crise criativa e financeira recente, até que seu CEO mais calejado foi convocado para reassumir o leme. A diretriz foi segurar ideias originais e acelerar a produção de IPs confortáveis —e dá-lhe “Divertida Mente 2”, “Mufasa” e “Moana 2”, que coletivamente trouxeram US$ 3,3 bilhões para os cofres do estúdio.
“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” é o exemplo perfeito de propriedade intelectual sólida, parte da memória afetiva coletiva do brasileiro, adaptada dos gibis para o cinema com leveza e inteligência. É arte, lida com questões profundas nas entrelinhas, sem deixar de ser um produto de primeira, perfeito para ser saboreado em família no cinema.
O cinema brasileiro é rico em ideias e, neste momento em particular, ganha um holofote global com o sucesso de “Ainda Estou Aqui”. Em tempos assim, quando os olhos do mundo miram nosso jeito de contar nossas histórias, podemos e devemos expandir também para o lado de dentro.