A realização da próxima cúpula —a 14ª que Portugal e Brasil realizam ao longo de dois séculos de relações diplomáticas— em 19 de fevereiro de 2025, em Brasília, anunciada nesta quarta-feira (20) em São Paulo pelo premiê português, Luís Montenegro, é mais do que um simples evento político ou diplomático.
Em um momento de intensificação dos fluxos migratórios, do fortalecimento das indústrias criativas e de um ambiente de negócios em plena expansão, essa cúpula —da qual também participará o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa— promete ser um marco essencial para consolidar avanços e abrir novas portas.
Depois de anos de pausa —Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro não eram os maiores adeptos do país luso— a cúpula anterior, em Lisboa, em abril de 2023, mostrou o novo potencial transformador da parceria entre o maior país da América do Sul e o seu irmão de língua europeu.
Na ocasião, o encontro realizado em Portugal foi um sucesso. Deu grande destaque às questões da mobilidade entre cidadãos, e nele foram assinados 13 acordos bilaterais que facilitaram a integração de brasileiros em Portugal e de portugueses no Brasil. Mas quando, em março deste ano, as eleições trouxeram um governo de direita em Lisboa novas preocupações surgiram.
Lá Fora
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Sem motivo. O novo poder não trouxe qualquer impacto negativo para as relações com o Brasil. Pelo contrário, Montenegro reafirmou, em um almoço na Casa de Portugal em São Paulo, o compromisso de acolher “ainda melhor” todos os brasileiros —uma boa vontade sustentada por medidas concretas, como a manutenção do acordo de mobilidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que segue firme como um dos pilares dessa relação.
Montenegro foi enfático ao destacar o papel das indústrias criativas —da música ao audiovisual, da literatura às artes de palco, mas também da arquitetura e do setor imobiliário— como áreas centrais na conexão entre os dois países e “alavancas para um ciclo de crescimento econômico duradouro”.
Mencionada com entusiasmo, a ponte aérea entre Lisboa e o Brasil —que a TAP lidera, sendo a única companhia aérea a conectar com a Europa, sem escalas, cidades como Belo Horizonte e Brasília— simboliza essa ligação intensa e multifacetada.
Peça-chave em uma engrenagem complexa, a ligação diária Brasília-Lisboa permite que muitos tomadores de decisão, portugueses e brasileiros, adormeçam em um continente e acordem no outro.
Esse voo único entre capitais da América do Sul e da Europa é muito mais que uma aeronave diariamente repleta de passageiros; simboliza uma verdadeira estrada para o futuro, por onde investimentos, ideias, influência, cultura e negócios fluem livremente.
Essa ligação direta, entre a praça dos Três Poderes e o Terreiro do Paço está a tornar-se o embrião de um novo corredor geopolítico mundial. Ligando Norte e Sul, em pé de igualdade, ela pode estar desenhando uma alternativa real à dinâmica maniqueísta que Estados Unidos e China tentam impor no planeta.
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