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Políticos padecem de uma espécie de maldição de Cassandra quando falam de seus projetos pessoais. Eles podem jurar de pés juntos que não se candidatarão a algum posto eleitoral e ninguém acreditará. A desconfiança do público não é sem motivos. Se políticos já não são exatamente uma categoria kantiana, tornam-se verdadeiros cínicos quando lidam com suas ambições pessoais.

Nos últimos 20 anos, dois tucanos que haviam conquistado a Prefeitura de São Paulo, José Serra e João Doria, largaram o mandato no meio para disputar o governo do estado. O primeiro chegou a assinar um documento dizendo que permaneceria prefeito até o último dia do mandato.

Na semana passada, Lula disse numa reunião ministerial que a campanha de 2026 já começou, mas que ele poderia não disputar a reeleição. Seguindo o roteiro de Cassandra, ninguém acreditou. Nem seus ministros, nem a oposição, nem jornalistas e provavelmente nem o eleitor.

Não sou eu quem vai colocar-se contra a sabedoria popular, mas penso que há uma chance não desprezível de Lula de fato pular fora do próximo pleito. Se ele sentir que é grande a chance de perder, não deve disputar.

À medida que a idade avança, as pessoas deixam de priorizar tanto os planos futuros e passam a esculpir mais a narrativa autobiográfica. Lula já chegou nessa fase. Não vai querer correr o risco de fechar os capítulos finais de sua cinematográfica biografia com derrota para um preposto de Bolsonaro.

Assim, o nome da esquerda que constará na urna em 2026 depende menos da palavra de políticos do que da viabilidade eleitoral de uma candidatura governista.

E, se têm aparecido sinais pouco auspiciosos para a situação, muito disso se deve à húbris do próprio Lula, que desafiou a sabedoria política convencional. Em vez de arrumar a casa no início do mandato e guardar bondades para o final, Lula já entrou pisando no acelerador dos gastos. Até produziu crescimento, mas com a perspectiva de alta da inflação e desaceleração a partir de agora.


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