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Gruda mesmo. Percebe que o ambiente é hostil, até pela falta de um aporte sanguíneo farto. Então, ela se agarra no tecido mineral e forma uma espécie de camada, o biofilme. Fica sob esse manto protetor e para de se multiplicar. Quietinha, ali embaixo desse biofilme, as células de defesa não conseguem matá-la. Nem os antibióticos penetram. Por esse motivo é uma infecção de tratamento dificílimo. E ela, infelizmente, acomete de 2% a 20% dos pacientes que colocam próteses.

O professor me conta que essa proporção já foi pior no passado. Ainda bem, as condições cirúrgicas e as próprias próteses avançaram, diminuindo esse risco. Mas, apesar de a proporção ter caído, o número de casos de infecção deu um salto. Isso porque, em compensação, hoje tem muito mais gente precisando operar para colocar uma prótese no lugar de um osso. O envelhecimento da população justifica em parte esse aumento. E entra na conta a incidência crescente de acidentes de trânsito, ampliando a demanda.

“É preocupante. A infecção se dissemina pela musculatura ao redor. O espaço entre o músculo e o osso costuma ficar preenchido de pus. Isso tudo dispara um processo degenerativo progressivo e onde a bactéria está grudada pode acontecer até uma necrose”, descreve o professor Tuon, que não conseguia tirar esse quadro da cabeça.

É que o infectologista se dedica a um nicho muito particular de pesquisa: a busca de materiais para evitar ou ajudar no tratamento de infecções. E confessa que, entre tantas tecnologias, acabou se apaixonando pela impressão 3D. Há três anos, pensou: será que não poderia imprimir próteses capazes de evitar toda essa situação?

Convenceu, então, ortopedistas e neurocirurgiões a embarcarem nesse sonho, ou melhor, na pesquisa publicada recentemente no periódico Brazilian Archives of Biology and Technology. Ela resultou em termoplásticos contendo antibióticos que a impressora transformou em próteses sob medida para os 15 pacientes que as usaram no início.

Os brasileiros são os primeiros do mundo a desenvolvê-los. O potencial da novidade fez com que o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) aprovasse um financiamento de 3 milhões de reais para estruturar um centro de impressão 3D na PUCPR. A ideia é que ele forneça sem custo, já a partir deste ano, as próteses com antibiótico aos pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).