Sou incompetente para falar línguas estrangeiras, mas sou fascinada pela linguagem em geral, como característica humana. Claro, outras espécies grunhem, sinalizam e assim por diante. Talvez as canções das baleias vão além. Talvez elas digam coisas como: “A comida é boa aqui, a 500 milhas de vocês. Vem pra cá, pessoal”. Mas até onde sabemos nenhuma outra criatura terrestre pode ter, por exemplo, uma conversa como a que você e eu estamos tendo agora, sobre linguagem.
Então, há décadas eu leio sobre linguagem. E recentemente tenho ouvido as maravilhosas palestras de John McWhorter sobre linguagem e línguas nos cursos da Teaching Company. Se seu inglês é bom, encontre-os e ouça. Você será convencido a desistir de muitas de suas ideias equivocadas sobre linguagem —e mesmo sobre português.
Uma das ideias equivocadas é da década de 1930, de Benjamin L. Whorf. A versão forte da Hipótese Sapir-Whorfiana da Relatividade Linguística é que sua língua —inglês, português, hopi ou pirahã— torna certos pensamentos impossíveis para você. Pensar sobre magnitudes além de 2, digamos. A versão forte foi rejeitada por evidências linguísticas. Mas todos sabemos que uma versão fraca é verdadeira.
Os arquitetos sabem o que significa a palavra “quoins”, do inglês para o francês. Quoins são as pedras alternadas colocadas nos cantos de edifícios do século 18 [em português, “quinas” ou “cunhal”]. Antes de você conhecer a palavra, aposto que nunca notou os “quoins”. Agora, como eu, está condenado a notá-los todas as vezes.
Uma das muitas maneiras pelas quais a linguagem e a economia —ou, mais geralmente, as ciências humanas e sociais— se movem em pistas paralelas é que sua compreensão do vocabulário econômico torna algumas maneiras de pensar sobre a economia difíceis ou fáceis de entender. A piada séria dos humanistas é: “Nós falamos a língua, ou a língua nos fala?”.
Um exemplo imediato está em que quando um não economista como Donald Trump pensa em “competição”, ele naturalmente pensa num jogo de futebol. É soma zero. Se o Flamengo faz um gol, então o Vasco está pior. Mas um economista pensa em lojas “competindo” por clientes de uma forma que, para a sociedade em geral, é decididamente uma soma positiva. Um economista-político como Javier Milei entende isso. Ele está tentando, com algum sucesso, ensinar isso aos argentinos. Sim, se uma cliente vai às Pernambucanas, o Shopping Fiesta está em desvantagem. Mas é claro que a cliente fica melhor. Ela escolheu, então deve pensar assim.
O mesmo vale para uma cidade inteira e o mundo. A “competição” é para a sociedade como um caso de amor ou uma dança. Todos os que participam estão melhor do que se não participassem. De fato, embora dentro de cada jogo a competição Flamengo x Vasco seja de soma zero, o fato de eles jogarem simplesmente mostra que consideram os jogos mutuamente benéficos. Soma positiva. Donald, Lula e Jair não entendem isso. Nós perdemos.
Os exemplos são inúmeros. Não economistas, e até alguns economistas, acham que “monopólio” significa “uma empresa que tem a maior parte dos negócios agora”. Google. Antitruste, no entanto, é desaconselhável. Nós perdemos.
As palavras importam.
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