Ao final das filmagens da série documental “Sankofa – a África que habita o Brasil”, a fotógrafa Mariana Maiara, 32, terá finalizado uma viagem de 20 mil km por estradas brasileiras para visitar lugares e comunidades que marcaram a história da população negra.
As filmagens começaram em 2024, e Mariana, que tem um extenso trabalho na fotografia documental em terreiros de religiões de matriz africana, saiu de trás das câmeras para assumir a apresentação da série, com estreia prevista para novembro na TV e no streaming.
A produção visita locais como o Quilombo do Malunguinho, em Pernambuco, que a formação remete a meados do século 19, e também a Praça da Liberdade, importante marco da história do período da escravidão no centro da capital paulista.
Celebrações religiosas e festas como o congado mineiro, em Ouro Preto, também estão na rota das filmagens.
Apresentadora e antropóloga, ela conta que a junção de sua atuação na academia com o trabalho fotográfico resultou em uma visão mais profunda das manifestações culturais afro-brasileiras. Mariana integra o grupo de pesquisa Ginga, na Universidade Federal Fluminense (UFF), dedicado a estudar conflitos de natureza étnico-racial e religiosa no Brasil.
“Quero documentar e trazer as narrativas das pessoas com quem temos conversado de uma forma que elas sejam protagonistas das suas histórias. São histórias relevantes para a sociedade, de contribuições culturais, políticas, sociais e patrimoniais também.”
A foto sempre acompanhou a antropologia, mas era comumente usada para colocar a pessoa ou comunidade retratada como um objeto de estudo visto, muitas vezes, como algo “estranho ou exótico”, explica. Hoje, seu objetivo é fazer o movimento contrário e usar a fotografia como ferramenta de transformação social.
“Nós temos todo um panorama histórico, social e político que faz com que nos vejam dentro desse imaginário social negativo.”
A partir dessa consciência e da experiência acadêmica, Mariana quer documentar o conhecimento que resiste em pessoas e lugares que tiveram pouco acesso às possibilidades de registrar suas tradições, como é o caso de muitos quilombos.
Nesse sentido, o trabalho na série tem sido enriquecedor, afirma ela que foi aluna de Januário Garcia (1943-2021), importante fotógrafo e ativista do movimento negro.
“Sankofa” é dirigida por Silvio Guindane (“Mussum, o Filmis”) e produzida pela FBL Criação + Produção em parceria com a RioFilme, da Prefeitura do Rio de Janeiro. A primeira temporada, “Sankofa – A África que Te Habita”, de 2020, visitou nove países africanos, passando por rotas do tráfico transatlântico, para revelar conexões culturais com o Brasil.
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