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A 18 dias do Oscar, uma afirmação parece ser unânime entre críticos e especialistas do prêmio: a categoria em que temos mais chance de levar a estatueta por “Ainda Estou Aqui” é a de filme internacional. Mas quais são nossas reais chances diante do francês “Emilia Pérez“, abalado por inúmeras polêmicas, mas que tem o lobby gigantesco e milionário da Netflix por trás?

Vamos começar por eliminação. “Ainda Estou Aqui” tem pouquíssimas chances de levar o principal Oscar da noite, o de melhor filme –essa é aquela categoria em que a indicação já foi uma imensa vitória e cravou o Brasil na história da premiação com o primeiro filme falado em português incluído na lista principal. Como diz Fernanda Torres, já pode estourar a champanhe.

Por falar em Fernanda, nossa musa também tem as chances reduzidas de levar o seu para casa. Em 9 entre 10 previsões dos sites americanos especializados, ela aparece como a segunda favorita. É uma honra imensa –o problema é que segundo lugar não leva Oscar.

Demi Moore, por “A Substância“, aparece como a favorita. E será apenas a terceira atriz a levar um Oscar por um filme de terror, após Kathy Bates por “Louca Obsessão” em 1991 e Jodie Foster por “O Silêncio dos Inocentes” em 1992.

Mas resta uma esperança: depois da polêmica em torno das declarações racistas de Karla Sofía Gascón, de “Emilia Pérez”, os votos da espanhola poderiam migrar em massa para Fernanda, numa espécie de reequilíbrio latino. Vale fazer uma novena para que isso realmente aconteça.

Vamos agora a filme internacional. “Ainda Estou Aqui” supera claramente outros três indicados da categoria: o iraniano “A Semente do Fruto Sagrado“, excelente, mas de campanha bem mais fraca que o nosso; o apenas mediano dinamarquês “A Garota com a Agulha” e “Flow”, da Letônia, que tem mais chances em animação.

A pedra no nosso sapato é sempre ela, “Emilia Pérez”. O musical sobre o traficante que decide fazer a transição de gênero vem com a chancela da Netflix (lá fora; nem procure pelo filme no seu streaming aqui, onde ele está nos cinemas). Não dá para esquecer que ele é o recordista de indicações neste ano, com 13 no total. E ainda a vitória que teve no Globo de Ouro da categoria.

Entretanto, as chances de “Ainda Estou Aqui” crescem a cada dia. Ontem mesmo, a Variety, a maior revista de cinema dos EUA, cravou o filme de Walter Salles como favorito. Nosso drama acabou de levar o Golden Derby, uma premiação popular com 10 mil votantes, e cujo escolhido sempre coincide com o Oscar quando os indicados são os mesmos.

Agora que as votações abriram em Los Angeles, o grande pêndulo a definir a escolha é entender o quanto as polêmicas em torno de “Emilia Pérez” –não só as declarações de Karla Sofía, mas a representação problemática de um personagem trans, o desleixo com o retrato do México etc.– sensibilizaram ou não os votantes de Hollywood.

Se a reputação do filme de Jacques Audiard se manchou de verdade, o caminho está livre para dona Eunice Paiva garantir nosso primeiro Oscar na categoria. Hoje, eu diria que nossas chances são de 70%. Mas isso pode ser só esperança de um brasileiro entusiasmado…

Foto de Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow)