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Segundo o ditado, tirar doce da boca de uma criança é algo fácil. Isso pode até ser verdade no sentido literal, mas, uma vez que crianças estejam acostumadas com açúcar e produtos cheios de aditivos, não será tão fácil assim modificar seus hábitos alimentares.

A medida anunciada pelo governo federal na última semana, que limita a quantidade de produtos processados e ultraprocessados nas escolas públicas, é um passo importante nessa direção. Em 2020, estabeleceu-se um limite máximo de 20% para esse tipo de produto no cardápio das escolas públicas.

Agora a nova resolução reduz o limite para 15%, com previsão de cair para 10% no próximo ano. Ou seja, gradualmente, as escolas públicas em todo o país já devem estar no caminho de adaptar seus cardápios em direção à oferta de alimentos mais saudáveis.

E por que isso importa? Em primeiro lugar, os produtos ultraprocessados são desenvolvidos para serem viciantes. Para identificá-los, basta olhar os rótulos: são produtos totalmente industrializados, com aditivos químicos de nomes difíceis que não conseguimos reproduzir na cozinha de casa. Os biscoitos e refrigerantes entram nessa categoria. Já os alimentos processados são aqueles industrializados com adição de sal, açúcar ou um ingrediente para aumentar a durabilidade. Estes últimos podem ser convenientes para o ritmo de vida moderno e o trabalho das merendeiras, mas não devem ser a base da alimentação.

Limitar os ultraprocessados é crucial, porque a infância é uma fase de formação de hábitos alimentares. Uma vez que a criança se habitua a esses produtos, livrar-se deles no futuro será muito difícil —e, em muitos casos, pode ser tarde demais para evitar as consequências.

Alguns efeitos dos ultraprocessados já são bem documentados. Estudo realizado em dez países europeus, publicado neste ano pela The Lancet, acompanhou 400 mil pessoas durante 16 anos e encontrou uma associação positiva entre o consumo de ultraprocessados e a mortalidade por todas as causas, doenças circulatórias e doenças digestivas. Nos EUA, estudo mostrou que a taxação de bebidas açucaradas levou à redução do índice de massa corporal em jovens adultos.

Em crianças, pesquisas associam consumo de ultraprocessados a sobrepeso ou obesidade na primeira infância e indicam que a exposição precoce é um forte preditor do seu consumo na idade escolar. Além disso, estudos brasileiros associam o aumento na compra de produtos da agricultura familiar por escolas públicas a uma relevante melhora no desempenho acadêmico dos alunos.

Essas evidências reforçam a importância de políticas públicas voltadas a reduzir a exposição da população aos ultraprocessados, promovendo benefícios à saúde pública. Garantir uma alimentação mais saudável nas escolas pode trazer impactos positivos profundos para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, considerando que muitas delas realizam uma ou duas refeições por dia nesse ambiente.

Porém a tarefa não é simples. Os ultraprocessados contam com estratégias de marketing agressivas, custos reduzidos e uma logística altamente eficiente a seu favor.

Tirar o biscoitinho das crianças não é fácil, mas as vantagens justificam o esforço.


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