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A viagem para o Brasil não estava prevista. Aconteceu às pressas. Em algumas horas, reorganizei a vida para os próximos dias e, passagem comprada, fui para o aeroporto.

Menos de 48h antes de eu entrar no voo de Londres para o Rio, minha avó, de 89 anos, precisou fazer uma cirurgia de emergência na madrugada de quarta (12). A operação era um risco, mas teve que ser feita. O alívio de saber que o procedimento tinha sido bem-sucedido virou a angústia de esperar para ver como o organismo dela reagiria no pós-operatório. Os médicos não estão otimistas.

Minha avó nem sempre foi uma pessoa, digamos, fácil. O gênio forte fez com que se afastasse de pessoas importantes. Nossa relação teve altos e baixos, mas, nos últimos anos, sinto que encontramos nossa melhor forma de nos relacionar e demonstrar amor. E ela também sabe ser generosa, tem uma risada gostosa de escutar, fazia uma bela canja de galinha quando eu era criança. Sempre trabalhou e foi independente. E não tem medo de dizer a uma pessoa que a ama. Ela fala que me ama com frequência, e vou lembrar disso com carinho.

Sou de uma família de mulheres fortes, como ela. Mas, antes disso, enquanto minha avó luta pela vida no hospital, eu, começando a escrever este texto no escuro do avião, me permiti chorar pelo luto de uma perda que ainda nem aconteceu.

Se você pudesse rodar um filme da sua vida, tipo aquele flashback de imagens que passam diante dos olhos do personagem principal, que cenas escolheria? Garanto que as mais especiais não serão as de conquistas materiais, e sim de interações humanas, encontros, histórias compartilhadas. Seja a comemoração de uma data especial à volta da mesa, ir com os filhos a um estádio de futebol ou outro esporte –ou quando seus pais te levaram pela primeira vez– e outras infinitas possibilidades.

Quando penso no ciclo da vida, me vem forte à cabeça a importância da atividade física e do amor pelo esporte. Quem faz exercício vai ter uma velhice com menos sofrimento, mais energia e mais saúde, vai poder brincar com os netos, se os tiver, e criar mais cenas para incluir em seu próprio roteiro.

Minha avó não faz esportes, mas assiste na televisão a todas competições esportivas em que eu trabalho como repórter. Depois, me manda uma mensagem carinhosa dizendo que “acompanhou tudo”.

Eu e umas amigas costumamos dizer que, quando deixamos nosso país e vamos morar fora, nosso coração nunca mais fica inteiro. Há uma divisão eterna, culpa pelo tempo que poderíamos ter passado perto de quem amamos, mas foi “perdido” porque decidimos seguir a vida do outro lado do oceano.

Preocupação de que, quando for a hora de dizer adeus a alguém que está longe, a despedida perfeita não terá acontecido. Um voo de 12 horas pode ser longo demais quando há pressa.

Cheguei a tempo no hospital e falei tudo isso para a minha avó, mesmo ela não estando consciente. Ao fundo, o som dos aparelhos que a ajudam a manter-se viva. Independentemente do que acontecer, tento pensar que a tal despedida perfeita não existe, mesmo para quem mora a minutos de distância. Quero acreditar que é a coleção de momentos, o longo filme da vida que passa diante de nossos olhos, que realmente conta.


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