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Tania Bulhões democratizou a mesa dos brasileiros (dos que têm mesa). Agora todos podem tomar seu cafezinho segurando uma xícara linda e chiquérrima comercializada pela marca, e o melhor: mais original do que a original.

Tudo começou com a polêmica levantada por uma influenciadora digital que, em uma viagem à Tailândia, tomou um café servido em uma xícara igual à vendida por Tania Bulhões, que a própria influencer já tinha em casa. Seu vídeo, que teve mais de um milhão de visualizações, questionou autenticidade e a exclusividade do design da peça.

Ela comparou a xícara do restaurante com a sua, adquirida na loja oficial, e afirmou serem idênticas, exceto pela assinatura da marca. Outros criadores de conteúdo entraram na onda e fomentaram a repercussão, informando que a xícara, vendida aqui pelo valor de R$ 210 (cada!), além de outros produtos vendidos por Tania Bulhões, podem ser encontrados por preços significativamente mais baratos em sites como Shopee, AliExpress, AliBaba.

As patrulhas se dividiram. Os que defenderam Bulhões argumentaram que toda marca embute no preço a curadoria, a experiência de compra, o marketing, a história da marca, a conexão emocional com os clientes, blá, blá. Me lembrou a história do mecânico que cobrou R$ 1.000 para dar uma martelada no carro de uma cliente para consertar a rebinboca da parafuseta. Se sentindo ludibriada, ela reclamou, mas ele justificou o preço: R$ 10 foi pela marteladinha, R$ 990 foi por saber onde dar a marteladinha. Tania Bulhões é inteligente e sabe muito bem como usar seu martelo de ouro, mas dessa vez errou a mão.

O outro lado atirou para todos os lados: atacou a dona da marca, os consumidores da marca, a burguesia, as madames, o capitalismo, o fascismo, o imperialismo. Imagine quando descobrirem que as roupas que eles compram nas lojas dos shoppings vêm da 25 de Março e do Brás, só que com uma etiqueta “exclusiva”.

Resumo: quem caiu nessa jogada (que prefiro não chamar de golpe —senão não sobra ninguém) defendeu a marca, e quem não sofreu nenhum prejuízo, se revoltou contra ela. A verdade é que quem paga R$ 210 por uma xícara não se importa, e talvez até mereça ser enganado.

Tania Bulhões, agora conhecida como a Daslu das louças, manteve a classe e se pronunciou nas redes. Primeiramente expressou seu “profundo agradecimento” aos clientes que trouxeram a questão à tona, que inclui a influencer delatora ex-cliente que acabou com a sua paz. Informou que a coleção em questão será descontinuada até que a sua própria fábrica esteja apta para produzir todas as suas porcelanas. Só assim, poderá dar a sua “galantia”.

O nome da coleção, Marquesa, incomodou muita gente. Realmente soa excessivamente aristocrático. E os limões-sicilianos —tão autênticos quanto as porcelanas— que Bulhões plantou nas fazendas de Minas Gerais para servir de inspiração da arte dos pratos, também não convenceram. Se seguir essa linha, a arte da próxima coleção bem que poderia se inspirar nas lúcumas e cranberries cultivadas nas fazendas do interior da Bahia.

As porcelanas vendidas por Bulhões são lindas, não há como negar seu bom gosto. Mas todo chique tem um pé na breguice, basta um passo em falso e, em um segundo, todo glamour vira várzea. Etiqueta não garante ética.

O que me revolta, de verdade, é que todos passaram a semana falando sobre o preço da tal xícara de café e se esqueceram do preço do próprio café. Enquanto isso a equipe do governo teve uma trégua e o sossego para tomar tranquilamente os seus cafezinhos.


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