A ideia mais importante em economia é chamada “arbitragem”. Ela vem dos mercados financeiros, como o de câmbio. Se o real brasileiro aumenta de preço em relação ao euro, mas ainda não em termos de dólares, então há dinheiro a ser ganho por um arbitrador. Deixo isso como um exercício para o leitor.
Legal. Mas por que digo que esse truque financeiro é a ideia mais importante em economia? Porque a mesma lógica se aplica aos preços de tudo. A arbitragem é a cola que mantém a economia unida.
Suponha que o preço do aço estrutural feito nos EUA seja empurrado para cima nos EUA pela tarifa maluca sobre o aço canadense que Trump impôs como medida de “emergência”. O preço do concreto estrutural permanece o mesmo? É claro que não. Desde que o concreto armado surgiu, no fim do século 19, o concreto em colunas tem substituído as colunas de aço em edifícios. A arbitragem funciona. Isso significa que a proposta ainda mais louca de Trump de impor tarifas sobre todas as importações aumentará os preços dos bens produzidos internamente tanto quanto os dos bens vindos do exterior.
O mesmo princípio se aplica a salários e condições de trabalho. Um pacote de salário mais condições de trabalho em um lugar torna-se igual, pela concorrência por empregos, ao pacote em outro lugar.
Em Minas Gerais, o salário em espécie pago a um minerador, mais o valor em dinheiro que as mineradoras dão às melhores condições de trabalho, como segurança, tem que ser igual ao mesmo pacote pago aos trabalhadores em outra mina, localidade ou estado, ou mesmo em outras ocupações, como agricultura ou dirigir um caminhão. Por quê? Porque se o pacote de mineração for muito baixo, considerando outros empregos, os trabalhadores sairão da mineração em Minas Gerais, e se for muito alto, elas entrarão, até que os pacotes de dinheiro e condições sejam iguais. É senso comum. E é arbitragem.
Se você gosta de pensar em abstração matemática, salários mais o valor monetário das condições de trabalho devem ser equalizados em todos os lugares: W + C = W’ + C’. A equação não se aplicará exatamente se for difícil mudar de um emprego para outro —o jargão financeiro para a mesma ideia é “pontos de ouro”. Mas, com o passar do tempo, a arbitragem predomina.
Portanto, aprovar leis para melhorar as condições de trabalho, como a segurança nas minas, deve reduzir os salários, porque o pacote de salários e condições de trabalho é arbitrado entre os empregos. Pode ser lento, mas prevalece no final. Uma lei para dar aos trabalhadores férias remuneradas tem o mesmo efeito.
E uma lei para aumentar os salários, como um salário mínimo, deve reduzir as condições de trabalho. Somente aumentos na produtividade podem aumentar o pacote inteiro.
Por arbitragem, o aumento da produtividade em um emprego aumenta o pacote em todos os empregos. Um médico atual é muito mais produtivo do que na Grécia antiga. Mas minha produtividade como professora não é maior, provavelmente é menor, que a de Sócrates. Mas a arbitragem em longo prazo garante que a produtividade do médico, do mineiro ou do ator de cinema aumente enormemente meu pacote de salários e condições de trabalho. Graças a Deus pela arbitragem.
Só a inovação eleva a condição humana.
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