O Ministério da Agricultura e Pecuária apreendeu cautelarmente alguns lotes do chamado “café fake” e disse que ele contém cascas e defeitos.
Uma análise aprofundada das amostras ainda está sendo realizada, e um laudo sobre os produtos deve ser divulgado em breve. Caso fique comprovado que de fato há violação das normas, o ministério pode determinar o recolhimento efetivo das mercadorias.
A informação foi confirmada nesta quarta-feira (19) pelo diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da pasta durante evento realizado na sede da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), no Rio.
Nas observações preliminares, o ministério constatou uma incoerência entre o que esses produtos informam na embalagem e o que de fato estava dentro do pacote.
Isso porque eles declaravam na lista de ingredientes haver polpa de café, quando, na verdade, se tratava de casca de café.
Segundo Hugo Mota, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura, o produto conhecido como café fake pode ser prejudicial à saúde. A mercadoria com elementos estranhos pode conter ocratoxina, um composto tóxico prejudicial à saúde.
“O que precisamos ver é se essa casca é segura para o consumo. O café a gente sabe que é. Agora casca de café a gente não sabe”, disse.
Atualmente, o ministério investiga três fabricantes de café fake. “Na semana passada fomos em duas [empresas]. Nesta semana fomos numa terceira. E parece o mesmo modus operandi“, diz Mota.
Apesar disso, ele adota cautela e diz aguardar um laudo final. “Não podemos dizer o que vai resultar disso porque precisamos fazer as análises para saber se o produto está infringindo as normas ou não”, explica.
Segundo Celírio Inácio, diretor-executivo Abic, já foram identificados pontos de venda da mercadoria em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “Não são tantos casos, mas quando um supermercado oferece esse produto, outros se sentem no direito de também oferecer”, diz.
As “misturas de bebida sabor café” começaram a aparecer com maior frequência nos supermercados a partir de janeiro deste ano, como mostrou o Café na Prensa na ocasião. Trata-se de um produto que mistura o grão do café torrado e moído com outros ingredientes, como outras partes do cafeeiro e do fruto do café.
Esse tipo de mercadoria tem uma embalagem muito parecida com os cafés tradicionais, porém com preço bastante abaixo dos demais produtos no mercado.
Os rótulos costumam apresentar xícaras de café e uma identidade visual semelhante ao café de verdade. Abaixo, em letras menores, informam se trata, na verdade, de “bebida sabor café”, ou algo semelhante.
O assunto tem despertado preocupação no setor. Por isso, a indústria se reuniu em um seminário realizado nesta quarta, na sede da Abic, no Rio. O evento contou com a participação de representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária e do Procon-RJ, além de entidades da indústria e do varejo.
A proliferação desse tipo de produto preocupa sobretudo porque a indústria já vive um momento delicado, diante da disparada do preço da matéria-prima.
“Há uma escalada exponencial [do preço] em natureza nunca antes vista na Bolsa de café”, diz Pavel Cardoso, presidente da Abic. Ele se refere ao fato de a commodity registrar uma alta de mais de 100% no último ano. O aumento ocorre por uma conjunção de fatores, como adversidades climáticas, baixos estoques e aumento do consumo mundial, conforme explicou a Folha.
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“É avassalador o impacto que esse aumento causa no caixa das indústrias”, diz Cardoso, que lembra que a maior parte das empresas torrefadoras de café do Brasil são nano, micro ou pequenas indústrias.
O presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) disse que o café fake prejudica tanto o consumidor quanto a indústria, que tem que enfrentar uma concorrência desleal. “Essa situação não pode continuar”, afirmou.
Felipe Moreira, consultor jurídico e de relações governamentais da Abic, explicou que o café enquanto alimento é apenas o grão do cafeeiro, segundo regulamentação do setor. Tudo o que vai além da semente não é café de verdade.
O café fake, disse Moreira, é um “tentativa de enquadrar a mistura intencional de impurezas do café em outras categorias de alimento, mantendo-se a identidade visual parecida com a do café verdadeiro”. Às vezes, ainda faz “uso de aromatizantes artificiais para disfarçar o real odor do produto”.
Ele disse ainda que frequentemente esses produtos fazem uma declaração de ingredientes falsa ou imprecisa.
O jornalista viajou a convite da Abic.
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