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Dados recentes da Atlas Intel para a CNN Brasil revelam que apenas 18% dos brasileiros confiam nas igrejas evangélicas atualmente, enquanto 73% não depositam crédito nelas. Esse declínio na confiança não é fruto do acaso; reflete diretamente as ações e omissões das lideranças e membros dessas igrejas, que frequentemente transformaram a fé em instrumento de poder e prosperidade material, em detrimento dos valores centrais do Evangelho.

Desde 2018, o CNT/MDA já apontava uma retração na credibilidade da Igreja —abrangendo tanto católicos quanto protestantes. Naquele ano, 40,1% dos entrevistados a consideravam a instituição mais confiável do país. Esse número caiu para 34,3% em 2019 e estacionou em 25,8% em 2020, evidenciando uma tendência negativa clara e persistente.

Em muitas congregações, o púlpito, que deveria ser um espaço de acolhimento e orientação espiritual, tornou-se extensão do palanque eleitoral. Em 2022, diversos pastores não apenas endossaram candidatos, mas chegaram a condicionar a fé ao voto, impondo alinhamento político como exigência religiosa. Quem não seguisse essa orientação era visto como “desertor espiritual”, gerando divisões internas e afastando pessoas.

Além da politização, escândalos envolvendo líderes religiosos corroem ainda mais a credibilidade das instituições. A divulgação de práticas irregulares, desvios de recursos e conflitos internos amplificam a sensação de que a coerência moral ficou em segundo plano.

A influência religiosa sobre o comportamento político depende da credibilidade dos líderes e da qualidade das mensagens dentro das congregações, segundo os pesquisadores Paul Djupe e Jacob Neiheisel. Quando a fé é instrumentalizada para fins políticos ou financeiros, essa influência se deslegitima, e o afastamento de membros ou de simpatizantes torna-se inevitável.

É importante reconhecer que muitas comunidades continuarão optando por apoiar políticos em troca de poder, sem nenhuma melhoria na qualidade de vida de seus apoiadores ou de seu entorno. O compromisso de cada crente deve ser, sobretudo, com Deus e com as pessoas sob seus cuidados, não com a defesa da reputação dos “evangélicos”. Ao longo da história da humanidade, dentro e fora do cristianismo, muito mal foi cometido em nome de alguma divindade.

No entanto, espera-se que haja reflexão nos meios onde a mudança é possível. A recuperação da confiança exige humildade para reconhecer erros e disposição para mudar. A fé não pode ser usada como moeda de troca, seja por poder político, bênção financeira ou emocional. Se algumas comunidades quiserem exercer um papel de referência comunitária, precisam colocar Deus no centro de sua missão.

Revisitar as falhas é o primeiro passo para superá-las. Ao reconhecer que o uso eleitoral do altar foi um erro moral, será possível trabalhar por uma aproximação sincera com a comunidade, resgatando valores fundamentais como honestidade, solidariedade e serviço. É nessa via que as igrejas podem reencontrar o caminho do respeito público.

Contudo, isso não quer dizer que não haja espaço para pessoas que —entre outras coisas— são religiosas na vida pública. Significa que é necessário definir uma agenda que priorize não só o bem comum mas aquilo que a bíblia conclama: cuidar do pobre, do órfão, da viúva e do estrangeiro. Acima de interesses particulares ou de grupos específicos, ainda que de outros evangélicos.


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