Cristiano Ronaldo acaba de completar 40 anos, não para de fazer gols e segue contando.
Hulk completará 39 em julho, não para de fazer gols e segue contando.
O português buscou refresco no calorento mundo árabe e está perto de chegar aos 930 gols, um espanto.
O brasileiro não tem férias. Carrega pedras por aqui mesmo e vira e mexe salva o Atlético Mineiro, principal jogador do time e marcha para 450 tentos.
Não comparemos, rara leitora e raro leitor, um com outro.
O CR7 nasceu privilegiado por DNA excepcional e cuida de aperfeiçoá-lo diariamente, sem renunciar aos prazeres da fortuna acumulada — e sem perder o foco no ofício principal, jogar futebol.
O incrível Hulk tornou ficção em realidade. Também não se descuida do físico que trouxe do berço.
Ambos os dois, como diria Luís Vaz de Camões, riem na cara dos preconceituosos etaristas que gostam de dizer que fulano não tem mais idade para jogar bola, que sicrano deveria parar de cantar ou que beltrano devia se aposentar da vida política ou empresarial. São os modernamente chamados de sommeliers de idade.
Tantos são os velhinhos aos quais a humanidade agradece que faltaria espaço para nomeá-los.
Que tal, LeBron James, aos 40?
Bastaria citar um, Nelson Mandela, presidente da África do Sul aos 75 anos, depois de passar 27 em injusta prisão.
Você poderá dizer que o cárcere o preservou das preocupações do dia a dia e há quem diga que a cadeia preserva.
Pois eis que Gilberto Gil e Caetano Veloso têm 82, Edu Lobo, 81, Chico Buarque de Holanda, 80. Algum óbice?
Por favor, não venha com os 43 dias de prisão da dupla baiana com anuência do ditador de plantão no Brasil, Artur da Costa e Silva, ainda antes de completar 70. A quarentena dos dois gênios da raça serviu apenas para envelhecê-los, tamanha a velhacaria do general —na flor da idade para os padrões atuais.
Fenômenos como Cristiano Ronaldo e Hulk são cada vez mais comuns e muito antes deles, em 1962, Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol, foi bicampeão mundial, aos 37, pela seleção brasileira no Chile.
Só Dino Zoff, aos 40, em 1982, na Espanha, o supera e você, se estiver em dia de espírito de porco, poderá objetar com o fato de o italiano ser goleiro, enquanto o brasileiro era lateral-esquerdo.
Pois pergunte ao nosso bravo zagueiro Oscar o que ele tem a dizer sobre os reflexos de Zoff ao pegar, nos derradeiros minutos, sua forte cabeçada no canto baixo que valeria o 3 a 3 e a classificação na chamada Tragédia de Sarriá.
Não dê a estas mal-traçadas linhas a intenção subliminar de defender eventual reeleição de Lula, 79, muito menos de ser em causa própria, quase 75.
Muita água haverá de passar pela ponte, muita lenha haverá de ser queimada e Nelson Rodrigues tinha toda razão na mensagem dele aos jovens: “Envelheçam!”, aconselhou o Anjo Pornográfico.
E olhe que Rodrigues morreu moço, aos 68, não sem antes escrever que “O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência”.
Lembre-se disso ao atravessar a deliciosa fronteira dos 50.
Outro favor: não acuse a coluna do cometimento de “etarismo reverso”.
Até porque a melhor invenção do mundo são as netas.
Que Cristiano Ronaldo chegue aos 1000 gols e Hulk aos 500.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.