“Dizer a verdade é um hábito da pequena burguesia” —Lênin, no seu melhor. Quando ouço “progressistas” falarem a favor do combate a fake news, eu dou muita risada, junto a Lênin. Nada mais é do que uma farsa. Pouco importa o escalão de quem diz combater as fake news. Do ponto de vista da história da truculência política, a desinformação —em russo, “dezinformatsia”— deita raízes profundas na história da revolução bolchevique.
Esse “blá blá blá” sobre combate a fake news em defesa da democracia só engana gente sem repertório na história da política. O que a esquerda quer —incluindo o nosso desvairado governo— é que só as suas mentiras possam circular “democraticamente”. E as dos outros?
Processos, prisões, bloqueio de contas, perda do passaporte, enfim, a ordem é destruir a vida da pessoa. Nada diferente do que os bolcheviques faziam. Tudo o que essa pessoa falar deve ser considerado desinformação. Mesmo o silêncio é sinal de traição. Essa pessoa é aquela que não lambe as botas do governo.
Aniquilar reputações sempre foi uma prática da Tcheka, e da futura KGB, a maior agência de inteligência da história. Apesar de muita gente ter crescido assistindo a filmes de James Bond, do MI6, CIA e até do Mossad, os russos criaram a ciência da espionagem, e ninguém chegou perto de competir em competência com a KGB, e, hoje, sua descendente direta, a FSB. É bom sempre lembrar que Putin foi, ele mesmo, um “tchekista”, ou seja, alguém de dentro da KGB. A geopolítica vista a partir da Rússia parece tratar de outro planeta, com outra história a ser narrada.
A Tcheka foi criada por um decreto de 20 de dezembro de 1917 por Lênin. Era então um comitê extraordinário para exercer as funções de polícia política liderada pelo aristocrata convertido ao bolchevismo Felix Dzerjinski. Por sua vez, se converteu, depois de algumas etapas, na temida KGB.
Se foram os soviéticos que criaram a Tcheka, foram os russos do império do Czar que deram o primeiro passo. A Okhrana, criada no governo de Alexandre 2º, assassinado em 1881 por grupos terroristas pré-revolucionários, nunca chegou à marca da violência das suas sucessoras soviéticas. Isso não quer dizer que os agentes da Okhrana eram necessariamente “gente boa” —hoje em dia, devido à visão dicotômica idiota típica do século 21, temos que explicar o óbvio.
A Okhrana tinha agentes por toda a Europa a fim de informar o Czar e seu “staff” das atividades que revolucionários, homens e mulheres, exerciam, entre eles Lênin e seus camaradas, muitos deles perseguidos e executados nos anos 1930 por Stálin no processo de amadurecimento da agência de inteligência soviética.
Ao contrário do que muitos tentam afirmar, Lênin era cruel, impiedoso e violento. Trótski, aquele mesmo patrono dos ciclos de “cinema e revolução” entre artistas, estudantes e professores de classe média alta, era tão cruel impiedoso e violento quanto Lênin e Stálin.
O trauma irresolvido da esquerda com a realidade da violência monstruosa da revolução bolchevique —e da revolução chinesa e seus filhotes na Ásia— deu na “opção” de a esquerda atual afirmar que a revolução será feita por pessoas que ocupam a posição passiva no sexo: até a pós-graduação banca o cu revolucionário.
A esquerda de hoje faria xixi na saia se encontrasse um bolchevique “raiz” pela frente. É difícil para a esquerda de filhinho de papai encarar o que é a história e a identidade dos seus ancestrais de fato, por isso ficam correndo atrás do próprio rabo o tempo todo com pautas ridículas.
A KGB e suas antecessoras massacraram milhões de pessoas ao longo dos anos que existiu a URSS —hoje tem gente, mesmo da esquerda, que precisa olhar no Google para saber o que é a URSS.
Criar confusão, desinformação, fofoca, destruir reputações, chantagens, usar mulheres e homens sedutores para arruinar seus “alvos” sempre foi uma arma da inteligência russa, cobrindo o espectro hétero e homossexual.
Portanto, fake news sempre fizeram parte da militância, da geopolítica e das práticas políticas em geral. O próprio Estado soviético, desde Lênin, era a cabeça dessas agências de inteligência usadas tanto no exterior quanto no interior da URSS, aniquilando qualquer oposição possível ao regime bolchevista. Sem a Tcheka, desde 1917, é difícil imaginar o sucesso da revolução comunista tal como se deu.
A marca desse processo é o Estado se tornar, ele mesmo, a “Tcheka”, com perseguições, acusações, inquéritos secretos, e aniquilação de qualquer oposição legítima. A chave é: o Estado se tornar aquele que diz qual é a oposição legítima.
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