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Pterossauros, cujo tamanho variava entre o de pombos a de aviões, foram os primeiros vertebrados conhecidos por terem sido capazes de voar. E, por milhões de anos, eles tiveram caudas longas terminando em uma pedaço proeminente de pele.

Há muito tempo, paleontólogos se perguntavam sobre o por que dessa ponta em forma de pipa. Usando uma tecnologia de escaneamento a laser, uma equipe de cientistas encontrou novas estruturas em quatro fósseis de pterossauros que ajudavam a manter essa ponta rígida, sugerindo que ela auxiliava esses espécimes a manobrar durante o voo.

O estudo, publicado em dezembro na revista eLife, mostra que “mesmo fósseis que conhecíamos e estudamos em detalhes por centenas de anos podem ter coisas novas para mostrar se você desenvolver novas tecnologias para analisá-los”, disse a paleontóloga Natalia Jagielska, do Museu de Lyme Regis, na Inglaterra, autora principal do artigo.

Jagielska, também uma artista profissional, envolveu-se na pesquisa depois que o paleontólogo Michael Pittman, da Universidade Chinesa de Hong Kong, a abordou para ilustrar um livro infantil. No fim, eles se uniram para estudar fósseis de pterossauros em coleções na Inglaterra e na Escócia.

Após analisarem mais de cem espécimes de pterossauros, os cientistas escolheram quatro da espécie Rhamphorhynchus, que tinham essas pontas de cauda em forma de pipa, para uma observação com fluorescência estimulada a laser. Pittman e Thomas G. Kaye, diretor da Fundação para o Avanço Científico e autor do estudo, têm promovido o uso da técnica para explorar restos da Era dos Dinossauros e para investigações arqueológicas.

O método a laser aproveita o fato de que alguns minerais brilham quando os elétrons absorvem e depois reemitem luz. Conforme um laser passa sobre os fósseis, a fotografia digital de longa exposição captura características ocultas que se destacam.

As imagens do primeiro espécime de pterossauro escaneado mostraram uma estrutura de treliça na membrana da cauda. “Na engenharia, essa é uma estrutura de reforço”, afirmou Pittman.

Os componentes dessa treliça poderiam ter sido benéficos para o voo, segundo Jagielska. “Eles se tensionariam quando havia uma rajada de ar, semelhante ao funcionamento de uma vela em um navio, e isso provavelmente reduzia a vibração”, explicou ela. Isso poderia ter ajudado o pterossauro a fazer curvas.

Os cientistas dizem que a função principal dessa ponta na cauda ainda poderia ter sido a exibição social, como as penas da cauda de um pavão são um sinal para atrair parceiros. Supõe-se que a ponta dos pterossauros provavelmente tinha cores e padrões proeminentes que não estão preservados no registro fóssil, de acordo com Pittman.

Para cumprir suas funções, essa ponta na cauda precisava de estruturas de suporte, o que o estudo revela nos pterossauros pela primeira vez, acrescentou Pittman. Se a ponta pudesse se movimentar livremente, teria sido “inútil como sinal visual”, segundo o especialista em voo de pterossauros Michael Habib, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, também autor do estudo.

O resultado é um avanço significativo no estudo dos pterossauros, na avaliação do paleontólogo Andrea Cau, que não estava envolvido no estudo. Ele observou que em um dos fósseis de pterossauro não haviam sido observados detalhes de tecido mole por meio de outras técnicas, mas que a fluorescência a laser os revelou.

“Dada a raridade de restos de tecidos moles na paleontologia, mesmo apenas um novo fóssil faz a diferença”, afirmou Cau.

Estudos futuros sobre as caudas de pterossauros podem esclarecer “quão eficiente era essa estrutura como leme ou estabilizador”, acrescentou o paleontólogo Scott Persons, do College of Charleston, na Carolina do Sul, que não esteve envolvido neste estudo.

Dado que diferentes pterossauros tinham essas pontas na cauda de tamanhos distintos, mais pesquisas podem mostrar se essa variação tinha mais a ver com a otimização do voo ou com a “moda”.

Jagielska disse que gostaria de explorar por que as longas caudas com essas pontas desapareceram nos pterossauros no início do período Cretáceo, cerca de 146 milhões de anos atrás. Digitalizações a laser adicionais também podem revelar outras características importantes para o voo dos pterossauros. Um melhor entendimento da anatomia dos animais poderia até mesmo inspirar veículos aéreos no futuro.

“Se eles eram tão eficientes a ponto de viverem por centenas de milhões de anos, provavelmente estavam fazendo algo certo”, afirmou a paleontóloga.